T.F.

Onde a Terra será branca

Onde a terra será branca. Num domínio
oblíquo. A liberdade silenciosa.
Lábios iluminados. Dedos quase felizes.
Um volume verde, a narrativa quase exacta.
Espaço e corpo no interior das linhas.

Que suave aventura descansar dentro de um corpo!
Com o ouvido no vento, com o coração no escuro,
digo o nome do indizível, sigo um fluxo
de minúsculas coisas, uma música de insectos.
O ar tornou-se branco através do silêncio.

Como uma mulher aberta, o poema é um pomar.
A terra inteira resplandece como um fruto.
Tudo parece imóvel como uma árvore transparente.
O tempo abriu espaço entre os muros.
Somos a incessante luz na água azul.

de Volante Verde, 1986 in António Ramos Rosa, Os quatro elementos, Asa, 2004