-
tornado memória ....d' Ano : 22 Maio de 2005 / 21 Maio 2006 - - - Maio a Maio


Photobucket
Tiago Ferreira, ...Praga - final de 2005



22 Maio, 2005

Canção

Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.

Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
Eras o fruto nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.

Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.

............................................................. Eugénio de Andrade
.
.
23 Maio, 2005

No princípio

No princípio, quando Deus criou o céu e a terra, a terra era um caos sem forma nem ordem. Era um mar profundo coberto de escuridão; e um vento fortíssimo soprava à superfície das águas. Então Deus disse: "Que a luz exista!" E a luz começou a existir. Deus achou que a luz era uma coisa boa e separou-a da escuridão. E Deus chamou à luz "dia" e à escuridão, "noite". Passou uma tarde, veio a manhã: era o primeiro dia.

Genesis, 1, 1-5
ANTÁRCTIDA - O Continente da neve, do outro lado do mundo.


http://tierra.rediris.es/antartida/decepcion/antartida.jpg
02 Junho, 2005

Há dois anos, os dois futuros brincaram nas neves da Estrela,
por cima das nuvens.


T.F.
A aldeia do Monte Redondo, onde viveu o meu bisavô Tiago, onde se contempla a lonjura, com o Buçaco e o Caramulo ao fundo, onde tudo parece mais profundo, onde me sinto no cimo do mundo


T.F.
Frigid Determination


Photograph by Royal Geographic Society

On the unforgiving slopes of Mount Everest, Edmund Hillary, foreground, and Tenzing Norgay plod up the Southeast Ridge on their way to Camp IX, where they spend a bitter cold night at 27,900 feet (8,500 meters). The following day—May 29, 1953—they become the first to reach the top of the world's highest peak, which pierces the clouds at 29,035 feet (8,850 meters).



"Existiu o abominável homem das neves?"

Os jornais deixaram de falar sobre Ieti, o "abominável homem das neves", porque se descobriu que era uma fraude montada pelos sherpas, nativos que vivem no sopé do Everest. A não ser eles, não há quem tenha visto o tal monstro branco e peludo. Os sherpas vivem do turismo, e por isso criaram a lenda assustadora, estratégia usada diversas vezes, diga-se de passagem, na história da humanidade. Para alimentar o mito, vendem - a bom preço - como sendo do homem das neves, pedaços de pele do urso azul, animal nativo da região.

Outros tiveram ideias parecidas: Lock Ness, Fátima, etc. Mas perto das minhas Neves descobriu-se um verdadeiro santuário com dezenas de rochas de xisto com desenhos rupestres - http://jn.sapo.pt/2005/05/11/ultimas/Pinturas_rupestres_em_Arganil.html
5 de Junho, 2005

Uma mulher das Neves,
do outro lado do mundo, do mundo todo.


Japanese climber Junko Tabei in 1975 becomes the first woman to summit Everest, and later scales the rest of the Seven Summits, the highest peaks on each continent. Her achievements brought reflection. "A person can only leave the history of her life behind her," she says. "It is important to enrich one's mind with the feelings that emerge from being in touch with the beautiful and precious nature of our globe."
in http://www.nationalgeographic.pt/revista/0503/feature5/zoom3.asp

T.F.

Para a minha Mãe (onde estiveres), uma poesia de Sophia

"Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta,
continuará o jardim, o céu e o mar,
e como hoje igualmente hão-de bailar
as quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
em que tantas vezes passei,
haverá longos poentes sobre o mar,
outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho,
a mesma festa,
será o mesmo jardim à minha porta
e os cabelos doirados da floresta,
como se eu não estivesse morta."
Sophia de Mello Breyner
.
.
.
Hoje de manhã apanhei os últimos 5 minutos do episódio da National Geographic, sobre o Ártico: " ...a chegada dos gansos da neve anuncia o fim do Inverno...... o Inverno deve ser visto, não como a última estação mas como aquela em que se inicia um novo ciclo de vida"
Um ribeiro de Monte Redondo, no fim do Inverno.

Agora, que as neves se fazem rios e que o calor faz suar, apetece mergulhar.


T.F.

O Verão instala-se rapidamente e eleva o limite das neves (nível inferior de uma zona coberta de neves). O limite de neves perpétuas é o nível acima do qual a neve se mantém ao longo do ano e que nas regiões polares pode situar-se ao nível do mar e nos trópicos acima dos 5000m.....

E as Neves também já são tema específico de sites:
http://nsidc.org/snow/ - tudo sobre neve
http://www.its.caltech.edu/~atomic/snowcrystals/ flocos, cristais e fenómenos do gelo - com muitas imagens
15 Junho, 2005


DESCIDA AOS INFERNOS I

Desço pelo cascalho interno da terra,
onde o esqueleto da vida se petrifica protestando.
Como um rio ao contrário,
de águas povoadas por alucinações mortas
boiando levadas para a alma da terra,
procuro os úberos do fogo.

Carlos de Oliveira




E quanto a ti, Morte, e a ti, amargo abraço da mortalidade, é inútil tentarem alarmar-me.

O parteiro acorre ao seu trabalho sem demora,
Vejo a mão pressionando, recebendo, sustendo,
Reclino-me nos umbrais das delicadas portas flexíveis,
E observo a saída, e observo o alívio e a libertação.

E quanto a ti, Cadáver, penso que és bom adubo mas isso não me ofende,
Aspiro o doce perfume das rosas brancas crescendo,
Toco as folhas como lábios, toco o peito lustroso dos melões.

E quanto a ti, Vida, reconheço que és o resíduo de muitas mortes,
(Não duvido que eu próprio já morri dez mil vezes).

Escuto o vosso murmúrio, oh estrelas do Céu,
Oh sóis, oh erva dos túmulos, oh perpétuas transferências e promoções,
Se não dizeis nada que poderei eu dizer?

Do turvo charco na floresta do Outono,
Da lua que desce os precipícios do crepúsculo sussurrante,
Caí, centelhas do dia e do acaso, caí sobre as hastes negras que apodrecem no estrume,
Caí sobre o lamento incoerente dos ossos secos.

Levanto-me da lua, levanto-me da noite,
Percebo que a luz débil é o reflexo do meio-dia,
E desemboco no que é firme e central desde o rebento grande ou pequeno


Walt Whitman
22 Junho, 2005

O meu zénite no solstício de verão de 2005
Nuvens, andorinhas e sol a acordar


T.F.
23 Junho, 2005

de Sally Mann uma "iluminante" admirável

29 Junho, 2005

Vertentes

As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não
a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores

Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes
onde a agua cai sem tempo

.......................................António Ramos Rosa

........................



Há muitos dias atrás... para os lados de Porto Covo, entre a luz e as águas


T.F.
02 Julho, 2005

Nesta luz quase louca
que se prende aos telhados
às árvores aos cabelos das mulheres
aos olhos mais sombrios
falamos de ti do teu alto exemplo
e é com intimidade que o fazemos
falamos de ti como se fosses a árvore mais luminosa
ou a mulher mais bela mais humana
que passasse por nós com os olhos da vertigem
arrastando toda a luz consigo


Alexandre O'Neill

Hoje, num "instante decisivo", apanhou-se (visto e gravado) um belo documentário sobre o Magnum Henri Cartier-Bresson, um dos mestres da luz escrita.


H. Cartier-Bresson
À Beira

T.F.
À Margem


T.F.

À Margem
estarei
estarei bem por sobre as águas
muito bem

À margem
também serei
serei
serei
serei sobre as águas
sabe bem

Margens, bravas, vagas
Margens, claras, vagas

Ausente, não sou diferente;
- Eu ando nas margens da corrente
E o tempo que voa - à toa eu ando

nas margens da corrente

Pedro A. Magalhães
09 Julho, 2005

T.F.

O caminho que se abre e que se perde

Quando te acariciamos,
quando nos acaricias,
água das folhas, ar
que nos respiras
- que água de caminho breve
em nós se perde?

Que clara palavra
abre o espaço
a este puro caminho
que nos precede?

Caminho branco,
sempre o teu solo se perde.

Caminho que se abre,
flecha viva.
Não deixa rastro.S
ua face perdida
é esta:
a sede do ar.

Quando o percorro - e ele me percorre
o corpo se renova.
Como o sei eu se um intervalo se forma
onde ele se move
e o seu começo é o seu fim?
Antes da palavra se inicia e acaba,
caminho branco,
prestes a começar sempre,
sem que nunca comece e sempre inicial.
Depois da palavra e antes dela,
flecha viva,
o teu espaço é mortal.
Escrever é perseguir
teu invisível voo prolongando o túmulo do ar.

António Ramos Rosa
13 Julho, 2005

Antes da Noite




T.F.

Eu não fabrico a água.
Estas árvores existem. Estas mãos
estendem-se. Os meus passos
conjugam-se entre árvores, ruas, muita gente.

Mas eis a distância (a do deserto)
e aqui aproximo-me, é um desvio
verde, não a terra encantada,
à beira de ser eu, antecipo a vaga
que a língua move,
parede que foge e se eleva
sobre a água, sombra e relvas
O percurso é incerto. A cidade
é longe. E aqui a ausência
de uma árvore.Interminável suspensão.
Mas a transparência existe.
Os músculos da boca são redondos.
No pulso bate a seiva. Sinto-me vivo
Ò móvel vagar que eu pronuncio.
E a luz sempre, a luz e a sombra.
Entre uma e outra estendo a rede.
Eu quero beber a água deste dia
antes da noite
António Ramos Rosa
20 Julho, 2005

Silêncios

imagens participantes no 3º concurso de fotografia da revista CAIS - nº 100


T.F. - livre e presa atrás do Sol (seleccionada)

T.F. - olha-me sem me veres (não seleccionada)

Tenho no peito da memória os vincos do levantar,
a voz dela, os pés pequenos a não querer entrar
nos sapatos do dia. Depois imagino-te, mão grande
naquela mão pequena, a tentar que prometes. E ela
finge que sorri, tem uma dor escondida que te vás
embora. Até logo mãe, ou então menos,

um beijo rijo de silêncio no ar injusto da manhã

Manuel Cintra, do lado de dentro
26 Julho, 2005

o meu Neves-pai faria hoje 74 anos.



anoitecia e choveu,
depois de muitos dias secos

chora céu molha a terra mata a sede lava as ruas dá-te aos rios

a minha memória é a minha eternidade
28 Julho, 2005


T.F.

"... na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco."

José Luis Peixoto, a criança em ruínas
06 Agosto, 2005

Portugal vestido de preto... as árvores nem Pio dão.

ão ão ...........................



T.F.
22 Agosto, 2005

Portugal A Gosto de fumo.

12 Setembro, 2005

Depois do Fogo............de novo o frio.

05 Novembro, 2005

Há quase seis meses
fazia-se Verão a Primavera
experimentei começar a juntar pedaços
de neve do que fica do que foi
colei uma canção do poeta
poucas semanas antes de morrer
e enchi de branco os dias escuros
e de cores a memória preta


T.F.
Não há duas sem três
o Outono no Gerês
trouxe o Inverno de vez


T.F.
17 Novembro, 2005

Entender os sinais

há cem caminhos
há com sentidos
há sem sentidos

e há o que escolhemos fazer
vi(r)ver a pele viva da Terra


T.F.

T.F.
23 Novembro, 2005

a noite também tem luz


T.F.
20 Dezembro, 2005

O Outono a acabar morre a brilhar


T.F.

- no caminho da mítica Calcedónia

PR 1 - ICNF

PR 1 - CM Terras de Bouro
Neves
do ar
a ver
neves
na Terra
(22.12.2005)


T.F.
Entrar no Inverno
e ver chegar o frio novo
e a neve que fica
na pele da cidade
(25 e 27.12.2005)


T.F.

T.F.
Não há frio nem neves
que calem a vontade de cantar
... branca música


T.F.

T.F.

T.F.

Onde a Terra será branca

Onde a terra será branca. Num domínio
oblíquo. A liberdade silenciosa.
Lábios iluminados. Dedos quase felizes.
Um volume verde, a narrativa quase exacta.
Espaço e corpo no interior das linhas.

Que suave aventura descansar dentro de um corpo!
Com o ouvido no vento, com o coração no escuro,
digo o nome do indizível, sigo um fluxo
de minúsculas coisas, uma música de insectos.
O ar tornou-se branco através do silêncio.

Como uma mulher aberta, o poema é um pomar.
A terra inteira resplandece como um fruto.
Tudo parece imóvel como uma árvore transparente.
O tempo abriu espaço entre os muros.
Somos a incessante luz na água azul.

de Volante Verde, 1986 in António Ramos Rosa, Os quatro elementos, Asa, 2004
10 Fevereiro, 2006

Pontes, para crescer.


T.F.
16 Fevereiro, 2006

árvore mulher


T.F.

Uma força imóvel, aguda e vertiginosa e ténue
e a claridade das arestas percutidas,
uma habitação modelada aereamente
e, no entanto, sem sair da terra,
uma terra branca, uma terra de ar.
Terrear.

de Terrear, 1964 in António Ramos Rosa, Os quatro elementos, Asa, 2004
19 de Fevereiro de 2007

transladação dos restos mortais da Irmã Lúcia em directo na RTP, na Sic e na TVI

Fátima...... CHEGA!

"Há infelizmente por aí uma certa Igreja que nunca se deu a jeito com homens e mulheres livres, autónomos, criadores e responsáveis. Prefere, em seu lugar, homens e mulheres amedrontados, tímidos, submissos, ignorantes, analfabetos em tudo o que diz respeito à vida, inclusive, à vida cristã.Essa Igreja sabe que é muito mais fácil lidar com súbditos do que com mulheres e homens livres e responsáveis. E, por isso, o que mais promove, com a sua prática pastoral, não é a liberdade, mas o medo. Medo que começa por ser medo de Deus, e acaba a ser medo dos chefes, sejam eles do poder político e económico, militar e judicial, sejam do poder religioso.Ao longo dos séculos, sempre essa Igreja acolheu e realizou uma catequese com livros de terrorismo. E, sempre que invocou e invoca o santo Nome de Deus, não é tanto para comunicar boas novas às populações, cuja consciência controla, mas sobretudo para lhes anunciar castigos, cada qual o mais aterrador.É também essa Igreja que está sempre disposta a acreditar em visões e aparições de santos e santas, do coração de jesus e de nossas senhoras a criancinhas e a outras pessoas totalmente despojadas, como elas, de sentido crítico. Muito especialmente, quando tais visões e aparições se apresentam com um tipo de discurso moralista e catastrófico, e a recomendar mais orações nos templos, onde o clero dessa Igreja é rei e senhor, assim como mais frequência e fervor nas devoções que ele aí regularmente promove."

Fátima nunca mais, Padre Mário de Oliveira, Ed. Campo das Letras, 1999

Felizmente, no meio do ruído e do lixo, ainda há vozes que vale a pena ouvir mais alto.
Há dois dias, um documentário na RTP 2 sobre um brilhante pensador: Agostinho da Silva.

Há mais dias, no Panorama (mostra do documentário português - http://www.apordoc.ubi.pt/panorama.html#2) com um fantástico trabalho de Neni Glock - "A fé de cada um", sobre o fenómeno e as peregrinações a Fátima, rendi-me à visão do Padre Mário de Oliveira
http://padremariodemacieira.com.sapo.pt/
http://padremariodemacieira.com.sapo.pt/diario.htm
cf. com http://www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=1510
muito a propósito, no dia de hoje e nos a seguir.
23 de Fevereiro

2000

Espalhar o escuro, para conquistar
com luzes incandescentes e
histórias para adormecer.
(e no meio, fazer sofrer)





T.F.
04 Março, 2006

Na Serra do Açor - dos montes redondos

Na Rocha (1190m alt.) com a Torre a nordeste rodeada por S.Pedro (1342m alt.) e por S. Jorge - Cebola (1411m alt.).
(em 27.02.06)


T.F.
28.02.2006

Premonições

Grande e boa surpresa apanhar (ver e gravar quase todo) o documentário "A fé de cada um" de Neni Glock, 3ª feira (de Carnaval, ninguém leva a mal), pouco depois de uns dias na serra (com neves).Foi uma sorte, depois da meia noite e depois de ver, intermitentemente, um outro documentário sobre Krakatoa (que agarrou a televisão na 2). Foi animador e é bom poder agora revê-lo e mostrá-lo a mais algumas pessoas. Dez dias antes, não imaginava que fosse tão a propósito falar dele.
13 Março, 2006

A Prima Vera já chegou


T.F.

(jardim Arco do Cego, 12.03.06, 16.30 h)

No sábado vi, de manhã, papoilas na Quinta dos Lilazes, à tarde, andorinhas no Jardim do Torel. As temperaturas subiram acima dos 20 graus. Já começaram a nascer folhas novas (e novas neves a derreter).


Também eu

« Claro que sou cristão; e outras coisas, por exemplo, budista, o que é, para tantos, ser ateísta; ou, por exemplo, ser pagão. O que tudo junto dá português na sua plena forma brasileira.»


in Agostinho da Silva, «Reflexões, Aforismos e Paradoxos, 1999, Brasília